sexta-feira, 27 de abril de 2012

Aprovados

Aquela demora pela manhã, fazia Nanci andar de um lado para o outro, olhar insistentemente para o relógio, ora na parede, ora no pulso. Toc, toc, toc... Era o som de seus sapatos de saltos altos indicando que não podia mais esperar. Firme e resoluta, saiu da cozinha deixando a xícara de café pela metade borrada de batom, ao passar na sala, pára, refletida observa se a roupa lhe cai bem, os sapatos estão combinando, a bolsa seja de bom gosto... retoca o batom roubado pela xícara, vira-se de um lado, seus olhos correm para o outro sem piscar. Vê-se meio sorriso, gesto de aceitação habitual.


Enquanto isso, no banheiro, Túlio demora, admirado com as mudanças de seu corpo. Parece estonteado com os primeiros despertar dos pêlos. Ao espelho, escancara um sorriso largo, desses que confirma sua masculinidade. Seus olhos se arregalam ao sinal de espinhas, principalmente daquela enxerida no nariz.


O som forte e alto na porta avisa que seu tempo findou-se e, sua mãe sem rodeios escancara a garganta, pronunciando rejeições e acusações que por mais cinco minutos, seriam totalmente verdadeiras. Agilmente sua imagem está vestida, calça o tênis e penteia os cabelos soltando interjeições de irritação. Abre-se a porta do banheiro, o loiro molhado e magricela sai bicudo. Sua mãe com os braços cruzados e postura autoritária que o pesquisa, o acompanha no olhar.


Túlio abaixa a cabeça, pega a mochila e sai em direção ao carro lá fora; em seu caminho ele olha para o lado esquerdo, fita-se e sorri, olhando para os ombros e o rosto, continua sua lenta caminhada, apressada pelos passos da matriarca na retaguarda.


Nanci não resiste a atração do espelho e confere, novamente observa a escolha e os detalhes naquele rápido olhar, arruma a bolsa no ombro, em sua última visão, abre um sorriso de aprovação por sua aparência e resolução do caso Túlio. Toc, toc, toc... as chaves no telintar, anunciam sua saída, o perfume fica e lá se vai o carro rumo as atividades incumbidas.


Pé no acelerador, as vezes no freio, olhar à frente, desviado pela curiosidade com a aparência; ao seu lado, Túlio baixa o quebra sol, o espelhinho reforça sua aparência, uma fuga das reclamações de sua mãe que prosseguem. A coisa é certa, ambos esperam elogios que só os espelhos estão dispostos a fazer, com aprovação.

Pejo de Um Beijo

Beijo despejado, despojado, esperado e tão negado.
A negação é pelo pejo e não almejo.
Olhos abertos se estatelarão, e não saberei me controlar.
A verdade, talvez, é vergonha de te beijar.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

NICOLAU

    É outono em São José do Rio Preto, o sol já aquece o dia; dias quentes daqui. No entanto, águas persistem em cair, em molhar as faces de Leilane e de Godoy.   O silêncio já não é bem vindo. Momentaneamente, a alegria parou, e a tristeza implacável quer continuar.   Godoy procura explicações para consolar sua amada. Leilane esforça-se em lecionar, pensar o coração de seu querido. Não há palavras. Agora, não fazem diferença, pois os bons momentos, aqueles que Nicolau lhes proporcionara, não se desvanecerão. Mais uma etapa vivida.      



         
          
       

        

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A INTEMPÉRIE DO AMOR


O acinzentado céu, núvens se unindo, vento agitado, pássaros cantando, flores se abrindo e a chuva se anunciando. Ela estática, estivera e não há pretensão alguma de mudança. Esse cenário por vezes a aborrecia. Alguém sorrateira ou deliberadamente usurpava seu direito à atenção.
Lembrava a velha e enxuta dona. Sabia que contribuira para um mundo melhor, era símbolo de um progresso passado, de um presente presente, e de um futuro indispensável. Quem ousaria dizer o contrário! Ciente de sua importância nacional e fronteiras afora, depara-se com um momento de insegurança, seus coadjuvantes
pareciam merecer mais atenção. Logo um puxar forte, respiração ofegante seguida por uma calmaria, uma paz.
Parecia que todos a perceberam; os pássaros, as flores que brigavam, exigiam nascer ao seu lado. As núvens se unindo para enfeitar sua cabeça como véu de noiva.

As flores formavam o seu buquê mais lindo. Os pássaros na sinfonia da marcha nupcial não faltava quem quisesse tirar fotografias com ela, todos os ângulos. A noiva sorria para cidade, os raios de sol elegantemente dissipava a chuva. Quantos namoravam sob minhas vistas, choravam, abraçavam-se, sou confidente fiel.
A noite chegou, ela se adornou com brilho, muito brilho, mostrava a todos a sua importância.

A lua no céu, sim, ela a perdoava, afinal qual apaixonada, a lua era cúmplice de todas as noites
as noites em Paris.


TORRE EIFFELL "construída por Gustave Eiffell
1887-1889  em comemoração ao Centenário da Revolução Francesa
Curiosidades: A Dama de Ferro tem aproximadamente 300 metros
Pesa mais de sete mil toneladas
Quinze mil peças em aço
Seus degraus até o topo: 1652.

QUATRO LETRAS

As vezes expressar o inexpressável, sentir o que não se pode explicar, explicar o que outros não podem sentir, ter uma fusão de sentimentos e tentar distingui-los, um por um, e mesmo assim continuar sentindo como a
primeira vez.
Talvez, alguém já chegou a dizer que te amas! Balbuciar essas quatro letras é uma tarefa mínima, mas sentir e tentar defini-la, perdurará por toda nossa existência.
Eis a nossa doce missão.

A VELHA ÁRVORE

A velha árvore no mesmo lugar
Quem a plantou, regou e cuidou?
Seu crescimento foi almejo alcançar...
Tronco enorme, folhas condiz, ramos
diversos, não vejo a raiz...
Raios de sol a deixa feliz, chuva serena
rebento porvir...
Velha amiga que me faz lembrar de um
tempo que jamais voltará.
Ser assim constante me faz meditar,
tenho por ti amor singular.
Ah! Velha árvore, saudades que dá...


domingo, 22 de abril de 2012

UMA COR A MAIS

Nina é uma menina de quatro anos de idade, ao acordar foi correndo abraçar a sua mãe. Ao virar o corredor para o quarto, de braços abertos, para e observa atentamente sua mãe falar ao telefone.
De costas, a mãe não nota a presença da filha, mas Nina presta atenção no tom de voz da matriarca e esta está brava.

A menina, nas pontas dos pés, dá meia volta e entra debaixo dos edredons como se não tivesse acordado. Nina pensou que continuando na cama, sua mãe não ralharia com ela, embora não soubesse o que lhe havia feito.

De repente, os passos fortes vêm em direção ao quarto e Nina fecha os olhos, sua mãe carinhosamente a acorda e leva para higiene matinal. Como toda criança, pergunta se a mãe está nervosa. Sua mãe diz não tranqüilamente.

Nina pergunta novamente se a mãe tem certeza de que não está irritada. Pela segunda vez responde que não. Na curiosidade pueril, faz a mesma pergunta e sente que irritou sua mãe.

Leva-a para tomar café, chama a empregada e diz que precisa sair. Nessa altura sobe pela garganta de Nina uma pergunta, que logo sua mente refuta com a imagem de sua mãe insatisfeita.

A jovem mãe pega sua bolsa de couro trabalhada, destas que as madames expõem aos olhares públicos, com rapidez abre sua bolsa e tira um batom de cor vermelho. Em frente ao espelho contorna seus lábios como artista.

Trimmmm, trimmm, o telefone toca e a empregada atrapalha sua performance, que apressadamente atende o aparelho.

Volta com um sorriso e beija Nina deixando uma marca de lábios vermelho em suas gordas bochechas.
Ao sair a mãe, Nina olha para mesa da sala e vê o objeto de metamorfose. Pensa, mamãe não vai achar ruim, eu vou ficar igual ela.

Sobe numa cadeira, sua imagem infantil reflete no espelho e como uma cópia, segue fazendo os movimentos de sua mãe. Os contornos tortos nos lábios, o borrão da inexperiência e curiosidade, fazem na sentir se bem. Logo a empregada descobre seus segredos, ela sem se importar Poe sua bolsinha nos ombros e o andar é matriarcal. 

A empregada sorri,  como quem não pode fazer mais nada, guarda o batom nos pertences de sua dona, ela olha mais uma vez  para certificar que a menina não a segue, e de frente ao espelho experimenta aquele batom, dando uma cor a mais.
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UM AMOR INCOMUM

Lídia era moça de dezesseis anos, morena, cabelos crespos e negros, olhos da cor de jaboticaba, delicada e um tanto tímida, escondia das pessoas conhecidas e desconhecidas. Talvez não sentisse a vontade devido  ser robusta e aparentar mais idade, assim como sua mãe.
Dona Adélia senhora de pouco estudo mas de muita conversa, uma mente voltada para a sobrevivência, assim limpava casas dos afortunados, lavava e passava roupas e, nas horas de descanso fazia salgados e doces para melhorar sua renda. Conhecida em toda cidade, lá pelas cinco da matina, em sua cozinha desplanejada, porque pobre não dar pra planejar nada, subia o aroma de café, um cheiro de bolo ou pão. Lídia acordava e no seu habitual  silencio ajudava sua velhinha. Com tantas ordens, a menina não se perdia e logo ia pra frente da rodoviária vender seusquitutes gostosos. A mãe saia junto e na dita rodoviária, ditava conselhos matriarcais para a jovem se esquivar de problemas.
Doma Adélia pegava seu caminho e fielmente começava seu trabalho as seis da manha.
Sozinha

SOLO FÉRTIL

Solo descuidado em razão do clima, região pobre em virtude  da economia, barriga que ronca por causa de comida, panela vazia em cima da pia.
Crianças peladas brincam com a terra, talvez um ato indelével da sobrevivência que ativa o núcleo lúdico e criativo do cérebro. Claro que algumas choram, filhos e mães, pais desconsolados com a dura realidade duros solos e dura vida.
Ao anoitecer do dia, taxado de especial por causa das mandiocas arrancadas de algum quintal, sítio ou fazenda, não importa, chega à cozinha e o cheiro estonteante reacende uma vontade suprida por razoes maiores.
Em vista da quase infertilidade da terra, no terraço de Nho Cibides, o vilarejo come, mas não se farta, e o primogênito de Nho pega a viola, canta músicas raízes e se torna o centro das atenções, mais do que barriga, no dedilhar sai uma música nova com refrão que a populaça repete de primeira.
A lua de fundo, o menino a cantar, palmas a soar e o solo fértil da imaginação a colher os louros em anos de carência.


O TEMPO

No vai e vem da cadeira de balanço, as mãos tremulam por imposição da idade, a mente já não é mais a mesma, a visão turva tenta enxergar o óbvio, mesmo com óculos de altíssimo grau. A boca parece soltar sons indecifráveis, a conversa ora a faz rir e ora a faz chorar.

Qualquer observador ficaria pasmo por tal cena, não entendendo por que o tempo é tão implacável com o corpo, mente, nos deixando a deriva de nossa existência.

Sai repentinamente do casarão imponente, uma construção do início do século XIX, uma mulher jovem trajando roupas brancas com uma bandeja de medicamentos nas mãos. Ao chegar perto da idosa senhora desligada da realidade, sorri e diz num tom amoroso: Hora de seu remedinho, querida!

A senhora idosa continua a resmungar, ignorando a presença da dócil moça.
Ela por sua vez, abre a boca da paciente, coloca um comprimido, água acompanha o medicamento que desce pela garganta abaixo. Outra vez, coloca um comprimido de cor rosa, verde, branco... E a tarefa filantropa se repete à medida que a enfermeira executa seu trabalho. A cadeira continua a balançar, a senhora continua olhando fixamente para um lugar, e sua boca continua a balbuciar palavras não entendidas.

Na minha observação, parei, meditei, será que está pensando em seu passado, em seus entes queridos, em suas realizações, em seus amigos. Tantas coisas poderiam estar passando por seu cérebro.
Entrei através daquele portão trabalhado por mãos destras de serralheiro. Aproximei da recepção rodeada de móveis antigos. Fui indagado gentilmente do objetivo de minha visita, e, fiz uma humilde doação  para o asilo. E após conhecer melhor aquela casa, seu funcionamento e rotina, minha curiosidade não se dissipou por causa da figura idosa na cadeira de balanço. Quis saber se tinha familiares, e a resposta foi positiva, foi abandonada, não tem visitas há mais de oito anos.

Com minha face horrorizada por tal história, a encarregada me disse, que aquela mulher na cadeira de balanço ajudou muito este asilo, ajudou muito sua família, tem duas filhas, ela foi uma pessoa que passou seus sentimentos, suas emoções através da escrita, pois era considerada uma grande escritora, autora de grandes obras da literatura brasileira.

Meus olhos encheram de lágrimas, não porque sou uma pessoa sentimental, mas a causa da estadia da senhora me estarrecia. Fui ao seu encontro, no seu colo um livro, o último que havia editado. Segurei em suas mãos trêmulas, e tremendo olhei no fundo de seus olhos agradecido por sua contribuição á humanidade. Olhos nos olhos, lágrimas em cada face, ela continuava a falar e eu junto com ela continuei a agradece-la.

Após um bom tempo fui embora com a resolução de contínua ajuda ao asilo, e triste, porque uma pessoa qualquer que seja não merece esse fim, especialmente os da raça humana.

O SONHO ALCANÇÁVEL

Na janela, pela manhã, a fresta de luz irradiava no rosto de  Lucas, ao seu lado o despertador rouco de tanto tentar despertá-lo, o que parecia em vão. Lucas um jovem, moreno, corpo malhado em academia; repentinamente se move e vira do lado oposto ao sol esforçando-se a comprarum tempinho a mais de descanso.

Trim, trim! Toca o telefone, Lucas abre os olhos anuviados por secreção lacrimal comum ao sono. Tateando a escrivaninha consegue achar o aparelho e no seu bochechivo  alo, uma voz responsável e cheia de cobrança o alerta para um compromisso de trabalho já atrasado em uma hora. Ele levanta com aquele mau humor matutino e toma rapidamente um banho e faz a rotineira higiene.

Não esquenta em escolher sua roupa, a que for mais fácil consegue o privilégio de sair às ruas. Engraçadamente a blusa azul e a calça jeans o acompanham por quase toda a semana, rendendo-lhe o apelido de blue man.
Desce, no elevador sorri e gentilmente entoa seu bom dia a vizinha idosa que vai as compras no  supermercado e ao porteiro acrescenta o nome, bom dia seu João. Garbosamente responde: Bom dia seu Lucas, bom trabalho, precisando estamos as ordens. Lucas acena com um positivo e arfa atrás de um ônibus que está saindo do ponto, popularidade à parte,  o motorista o conhece de longe e na camaradagem o espera e pelo longo trajeto conversam animadamente. Chega ao seu destino às dez horas com um grande sorriso e muito bom humor.

Seu chefe o alerta para o atraso, no seu habitual sossego contra argumenta que compensará as duas míseras horas. Dali em diante os lápis, pincéis, compasso, computador e impressora tocam a harmoniosa melodia regida pelo maestro Lucas, talentosamente em meia hora, cria a marca e slogan, solicitado pelo mais novo e exigente cliente. Eureka! Está criada. Deixa sua mesa e caminha pelos corredores até seu chefe, mostra sua criação que deixa o chefe perplexo com sua criatividade, rapidamente liga para o cliente marcando a reunião num tom positivo, e acrescenta em sua voz dominadora que a conta está fechada.

Enquanto fala ao telefone dispensa Lucas por um gesto, o rapaz volta pelos corredores mexendo com os demais colegas, fazendo arruaça e a turma corresponde com seus gracejos e em todas as mesas sinalizam com as mãos sua loucura.

Lucas com habilidade nata fecha mais três pastas antes do meio dia. Vai almoçar, não aquele almoço corrido, não! Em publicidade são duas horas concedidas aos gênios do talento e demais úteis empregados.
Cochila, sonha novamente! Desperta ao som dos funcionários e barulhos comum ao ambiente, lentamente se dirige ao banheiro, faz aquela escovação, se higieniza, fixa seu negro olhar no espelho e por cinco minutos sua imagem passa –lhe a devida confiança na marcada reunião.

Na sala de reuniões, o chefe aguarda os futuros clientes ansiosamente, sendo notável o suor de suas mãos. Lucas entra e o acalma com sua pacates, do viva-voz são certificados que a jóia promissora da agencia esta na recepção. Olhando a Lucas o patrão sai, olhar este que os dois entenderam, talvez dizendo para não falhar ou, se falhar você já sabe, ainda, nosso futuro esta na suas mãos.

Lucas prepara as imagens, o slogan e a marca, na equipada e avançada sala entra os interessados que ao gesto de Lucas sentam e em silencio observam o jovem palestrar persuasivamente. Ao término os representantes da grande empresa sorriem e a conta passa para agencia. Cumprimentos, o chefe o elogia com alguns palavrões, e o convida para jantar com todos os funcionários, cortesia da agencia. Lucas expõe que já contraiu um importante compromisso, as invectivas insistentes do chefe perdem a força diante da calma e controle do garoto.

Vitoriosamente o Lucas aceita carona até seu apartamento, o chefe acena  e desaparece pela via.
Lucas olha para o prédio, dá boa noite ao porteiro do turno, entra no elevador e se depara com uma família agitada por ter sido assaltada em frente ao prédio.

Em sua educação da atenção a família se coloca a disposição e no décimo segundo andar deixa a cena, abre a porta de seu apartamento, come um pouco, sente preguiça de ir até a academia, no seu demorado banho faz uma retrospectiva de seu dia, enxuga-se e deita na cama trajado por um pijama com desenhos infantis. Dorme, sonha como uma criança. Esta é a hora mais prazerosa de Lucas, na segurança de seus sonhos ele se prepara para mais um dia em que suas quimeras irão pertencer a alguém que está desperto.

O FIM DE SEMANA

Tic tac, tic tac, era o relógio  teimando em retardar o meu tão esperado fim de semana. Naqueles cinco minutos veio a minha mente a conversa com meu melhor amigo, combinando aventuras praianas.
Sabia de cór o que faria ao chegar em casa, as bebidas que desceriam comigo, as roupas, a barraca, os alimentos e o carro, quem bancaria a gasolina era o irmão dele.

Viajei ao sentir o vento no rosto, as águas em meu corpo, ver um pôr ou nascer do sol. Sabia que meu amigo havia alugado uma quitinete de frente para o mar; fiquei na dúvida sobre quem cozinharia, pois nós três éramos péssimos em cozinhar. Achei que alguns enlatados iriam ajudar. Lembrei da geladeira de isopor, e descer a praia sem geladeira de isopor não é ir a praia. 

Estava preocupado se tinha dinheiro suficiente, novamente lembrei da caixa de isopor e, liguei para mãe pedindo para reservá-la, pois só chegaria em casa e tomaria um banho e depois, descer, estrada aí vamos nós.
Desliguei o telefone e num rápido olhar ao relógio de parede, havia passado dois minutos de meu precioso tempo. Dei tchau pra galera, foi um tal de bom final de semana pra cá e pra lá. Dona Dinorá minha supervisora, falou uns cinco minutos sobre minhas responsabilidades na segunda-feira.  Só na Segunda-feira e ela me vem com este blá, blá, blá, hoje é sexta-feira dá um tempo, pensei sorrindo pra ela e dizendo que não tinha problema e que o final de semana fosse bom também para ela.

Liberdade!Corri até o ponto de ônibus e por incrível que pareça, uns seis passaram lotado, pessoas dependuradas nas portas.
A minha ansiedade e expectativa adiada me deixaram um tanto sem paciência. Por fim veio aquele ônibus com alguns assentos vagos que embarquei. Minhas emoções estavam sobre altíssimo controle quando aquela lata velha quebra a quatro pontos depois de meu local de trabalho.

O motorista e cobrador pedem com a rudeza de quem não gosta de trabalhar como tais: desçam, quebrou!
Ainda bem que sou jovem e nunca precisei até a presente data fazer um check-up, mas comecei a pensar seriamente.
O cobrador para outro ônibus e vamos bem apertados até meu destino, minha residência. Cheguei e não acreditando vou direto para o banheiro, foi o banho mais rápido de minha vida, separei todas as coisas e ao  terminar, ouço a buzina do carro do Grande.

Sorrio e penso, nada mais vai nos atrapalhar, dou um beijão na minha velha, digo que se cuide. E ela passa e repassar os sermões das mães. Entro no carango e ao tremular por causa do motor, a certeza de um fim de semana inesquecível era iminente.

Conversas, piadas e brincadeiras nos animava ainda mais, até que na rodovia num quilômetro bem avançado, um engarrafamento quilométrico. Passamos a noite no carro e metade do outro dia também.
Como não tinha mais jeito, fizemos daquele congestionamento o nosso mar, do carango nossa barraca, comida não faltava, tiramos fotos com pessoas que pela primeira vez conhecemos, paramos para observar bandos de andorinhas e outros pássaros, e não posso reclamar, foi um por de sol e, no seguinte dia um nascer de arrepiar, sem falar na cheia lua. Engraçado, alguns reclamavam, mas como jovens nosso interesse era a diversão, e posso confessar, foi um fim de semana inesquecível.

BATE-PAPO

Francis era um jovem muito comunicativo, não conseguia parar de falar alguns segundo e escutar, gostava  de dominar as conversas, era só ter um ouvido atento e o jovem falava sobre suas consecuções mirabolantes.

Claro que seus ouvintes não depositavam fé em seus feitos. Mas Francis não se importava, achava que havia vivido realmente sua imaginação. Exageradamente contava situações simples, muitas vezes com efeitos especiais.

Alguns riam de suas conversas, os mais diretos rotulavam de mentiras e os educados sugeriam um bom livro, ou um curso do que mais gostava para poder gastar sua criatividade ilimitada.

Com o passar do tempo, os colegas e amigos o rotulavam de mentiroso, e tudo o que Francis queria era só bater um papo, um dedinho de prosa. E cada vez que se confrontava com as críticas continuava se resguardando, até um dia que se limitou a só cumprimentar seus convivas.

Dali por diante, ele vivia numa lan-house, e seu bate-papo por trás dos teclados tomava força e fôlego, suas histórias eram mais aceitas, e com tanta aceitação, a mente se libertava para coisas não vividas, personagens irreais, lugares nunca antes visitado, ele com seus dedos fazia a pessoa do outro lado do computador viajar e sonhar com o homem de seus sonhos.

Já tornara vício seu hábito de bate-papo pela internet, até que encontros marcados, claro que nunca aparecia, veio um dia que tomou coragem e foi conhecer quem o havia tocado.
Em sua mente, segundo as informações da pessoa com quem conversava, era mulher, rica, solitária, jovem e bonita.

Lá pelas tantas se aprontou com veste de fino trato, um perfume para ocasiões especiais e, descendo a rua da ladeira foi esperar no cybercafé.

Entra uma senhora, um tanto mal arrumada, como a beleza está nos olhos de quem a vê, Francis não se importou com tal figura. A mulher se dirigiu a ele, e com sorriso perguntou se conhecia um homem de meia idade, empresário, de nome Roberto Boaz.

Francis em sua mente rápida não acreditou que marcara encontro com tal pessoa, e sua resposta seguindo sua linha de raciocínio foi um não.

A mulher vivida, com um pouco de dificuldade sentou, pediu um café com creme e esperou, seus dedos batiam na  mesa, seus pés mostravam ligeira impaciência.

Francis continuou observar a cena, e revoltado consigo mesmo, não conseguiu acreditar que caira naquele engodo, logo ele tão esperto. Pensou que internet é perigosa mesmo, com o semblante bem sisudo saiu com passos fortes e foi embora, a senhora olhou e ele já havia sumido.

Uma hora depois, a senhora com aparência de pobre, paga o café e sai da loja, continua nos seus passos lentos se dirigindo a um carro luxuoso destes que os artistas na entrega do Oscar usam, sai o motorista abre a porta e a mulher senta confortavelmente, de frente a ela está uma linda jovem, rica, bonita e solitária.

A senhora que é avó dela diz: Não falei querida, não confie em bate-papo, principalmente de quem você não conhece. A  Mercedes segue seu caminho com uma certeza, foi melhor assim.

HOMENAGEM A ELES

Da escrita na parede, pedras, tabuinhas, papiro, velinos, couros e papeis, chegam as nossas mãos os livros.
Fazem nos voltar aos tempos mais remotos, viagens a qualquer lugar do mundo e do universo. Nos transportam aos mais belos cenários e pessoas de todas as formações, as diferentes culturas e pensamentos, aos mais cruéis atos e as mais nobres e enaltecidas ações.

Alguns nos acrescentam em moral, conduta e vivencia, outros são para diversão, e ainda outros para nossa formação, sem falarmos daqueles que somos obrigados a ler para sair da escola.
Quando crianças, possivelmente somos forçados a ler, e com o crescimento em todos os sentidos, muitos começam a amar a leitura e quão bem ela faz.

Vamos do amor de Peri e Ceci a Romeu e Julieta, do amor da Sulamita e do jovem pastor aos que incessantemente serão impressos.

Veridicamente entendemos o passado, nos preocupamos com o futuro e tentamos acertar o presente.
Quem nunca se emocionou com Lygia Fagundes Telles e aquela história da fidelidade de um cachorro ao seu juvenil dono morto na guerra. Amor de perdição de Camilo Castelo Branco e Amor de Salvação que foi menos doloroso. As poesias de Carlos Drummond de Andrade e as crônicas de Millôr Fernandes e também de Jabor. As meiguices de Cecília Meireles e, a sra Maria José Dupré com sua Ilha Perdida e o eterno Éramos Seis.

Cora Coralina com sua complexa simplicidade, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Castro Alves, Otto Lara Rezende, Pablo Neruda, Clarice Lispector, Eça de Queiroz, Willian Shakespeare, Rubem Braga, Jô Soares, José de Alencar, Luiz de Alvarenga Galdino e os cerca de quarenta escritores inspirados pelo Verdadeiro Deus a escrever os sessenta e seis livros que compõe a Bíblia.
Precisamos homenagear esses livros que indefinidamente mudam mundo, vidas, sentimentos, comportamentos, pelo simples ato de abrirmos e lê-los.

O BUSÃO

São sete horas da manhã, e o lotação, aquele ônibus lotado, não tem espaço para mais ninguém. A linha bairro centro, leva aproximadamente cinqüenta minutos para completar seu itinerário.
Neste tempo, comparativamente pequeno acontecem coisas, diversas vidas e histórias se misturam, como o daquela senhora morena com aparência de meia idade que conta às peripécias da noite anterior com os amigos na roda de bar. Algumas moças pudendas no meio do bus  escondem as faces em seus livros, ao ouvir  as intimidades que a senhora revela no fundo do ônibus como se estivesse entre as paredes de sua casa.

Há comentários sobre política, homens que conversam xingando o mau proceder dos que adotam a lei de Gerson. Jovens senhoras casadas comentam capítulos novelísticos, daquelas que assiduamente sabem o que acontecerá amanhã. O cobrador com cara de mal humorado diz não ter troco para uns, faz um jovem levantar para dar lugar a um senhor muito idoso. O olhar do jovem condena o cobrador que acostumado com essa vida olha para janela afora tentando deletar a cena e seu estresse.

Perto da senhora morena na mesma fileira de assentos, tem quatro jovens fumando maconha e mexendo com os passageiros e transeuntes, fazem isso com ar de proprietários do grande carro, gritando, falando palavrões. O interessante que o lotação cruza com a viatura da polícia, e nada acontece dentro e fora, tudo parece ser normal. No aperto do corredor, formam-se três fileiras e alguns casais se apertam sensualmente como na cama, não importando com olhares curiosos ou de reprovação. Os espertalhões, conhecidos como mãos leves, atentam para cidadãos descuidados, eles querem começar o dia bem, repondo o gasto que tiveram com a passagem.

Mulheres grávidas na frente falam sobre traição, família, pensão para os filhos e o principal, homens, pelas suas descrições uma revista pornográfica fica obsoleta. Um jovem em pé, lê a Bíblia, parece não estar no ônibus, lê com tanta atenção que sua face reluz como se já estivesse no paraíso. Dois outros homens discutem religião e não chegam num consenso.

A cada parada, a abertura da porta, acontece o vai e vem de passageiros, de vidas expostas e encobertas, acompanhadas pelas freadas, e um som próprio de rádio no ônibus com uma miscelânea de musicas.
Você talvez não tem outro jeito a não ser acostumar se com a rotina, uma rotina muito mudada, desde de que aquele escritor escreveu No Lotação, que um homem assobiando e cantando quebrava a rotina das pessoas, alguns gostavam e outros não. Ou com Ousadia, aquela crônica que contava sobre a mãe voltando pra casa, e um jovem rapaz fita seu olhar nela, que o julga adversamente, talvez pensando na ousadia do homem em querer flertar, ao descer percebe ser seguida por ele e, descobre que é o namorado de sua filha. Realmente o mundo mudou, e com isso, tudo em nossa volta. Bons tempos aqueles!

CÓPIA FIEL

Quem nunca teve curiosidade de dar uma espiadinha em sua genealogia por meio de fotografias. Assim se deu comigo.
Lembro de mamãe e papai contar sobre os familiares, avôs, tios, primos e afins. Gostava das histórias, tentava reproduzir o cenário em minha mente.
Houve uma ocasião em que numa das inúmeras reuniões familiares, mamãe abriu o baú de fotos, e conheci meus bisavôs, avôs e avós.
Aqueles contos antes de dormir, depois das fotos foram pra mim realidade, pois, através de uma fotografia podemos reviver, voltar no tempo, é claro que a mente às vezes não consegue detalhar toda cena, mas a foto, ah! Foto, que cópia fiel.

CONCEITOS

Uma bicicleta para a maioria das pessoas é só uma bicicleta. Mas para Osni, era indispensável.
Desde criança, lembra, pedalar exigiu esforço e determinação, e como todo mundo logo pedalava sem problemas.
Um ciúme tomou conta de Osni por sua magrela, quer fosse a escola, quer ao trabalho, namorar, comprar e inúmeras atividades da vida, sua fiel e inseparável companheira jazia com ele.
Alguns sabem dar valor há muitos objetos, principalmente um veículo motorizado, é o objeto de consumo da maioria, mas não de Osni. Sugere ele na sua humilde sabedoria popular, que gasto com combustível fóssil ele não tem, e que a dependência dele com seu veículo de tração é a mesma de sua bicicleta por seu dono.
Em seu hábito diário, levanta cedo e dirige-se ao banheiro, depois vai de encontro com seu camelo, lava-a três vezes por semana, confere os pneus, se a tinta está ficando gasta, Osni dá um jeito de deixa-la mais encantadora possível.
No bairro, é bem conhecidos os dois personagens, quando alguém diz que de bicicleta já cansou, Osni responde: Deixa de ser bobo, sô!
Outros argumenta: gostar de bicicleta assim aja paciência!
Osni contra argumenta, faz bem a minha saúde e ao meio ambiente, logo se vê que és um sujeito demente.
As troças acontecem em quase todo lugar, mas Osni passa na bicicleta a montar e com conversa particular elogia a magrela ao pedalar.

A PEQUENINA COMPLEXIDADE GRANDIOSA

O amanhecer é belo, sol que irradias raios, frestas de luz que atravessam árvores, folhas, flores, ramos, gramas, e seu contato no solo dá vida aos artistas em cena.
Tudo tem mais vida, mais cor, é um momento maravilhoso!
A simplicidade tem o dom de descomplicar a vida e os problemas, solucionando-os com equilíbrio.
O cair da folha, não lhe  tira a dignidade  de árvore, assim como o cair em erro não nos torna menos humanos.
A humildade nos aduba com a consciência de nosso relativo valor a humanidade, nem mais nem menos.
Assim como o grão de pólen passa despercebido e na sua atuação oculta, produz e reproduz flores, frutas, florestas e matas.
O diminutivo não é sinal de fraqueza, mas do entendimento de que toda coisa grande e honrosa procede da pequenina complexidade grandiosa.
Viva a pequenez, a simplicidade e a humildade!

Postagem em destaque

"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.