segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A Procura da Felicidade

Já passavam das dez da noite, em minha cama, estava eu deitado entre o transe do sono e a realidade, que a cada minuto o efectivo ficava pra trás. Palmas vinham da direção do portão, e muito zangado acordei , pensei: quem poderia ser pra me importunar aquelas horas? Julguei que poderia ser uma emergência. Sai correndo, não tinha mais ninguém no portão; abri-o, olhei para a direita e depois para esquerda, nada. Na rua, nas calçadas, pelas árvores, meus olhos procuraram; estava sem os óculos, a desculpa me serviu. Entrei, e normalmente fui pra cama dormir; acordei mal-humorado. Lembrei-me de ontem, e matutei que as pessoas não tem paciência; claro! poderia ser um pedinte. Balancei a cabeça.
Assim, reforcei minha decisão da insignificância do acontecido, mas despercebi que a felicidade entrou e deixei-a num canto qualquer.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Então, é Natal!

Diógenes acorda com o som alto do rádio, é natal e sua mãe está feliz, preparando os assados, os comes e bebes; ela canta acompanhando as canções de coração. Sonolento, o menino vai ao banheiro, toma banho, escova os dentes; sai renovado. Num cantinho da mesa, está um pano de prato reservando o seu lugar; toma seu belo café da manhã; meio a contragosto, parte passando pano em toda casa. O dia toma forma, fica feliz de ver o grande desfile de familiares que entram e saem; repara que uma vez no ano os vê, fica na vontade da assiduidade.
Cansado, pois aos sete anos um pano e um rodo são deveras pesados; liga o aparelho de televisão, olha atentamente os desenhos temáticos do dia. Na hora de almoçar, deixa o aparato ligado, uma notícia o arrepia, a jornalista enfatiza que aproximadamente 40 mil crianças dormiriam com fome naquele dia, como diariamente. Pensa: É Natal! Onde está o espírito natalino? Aborrecido, come um pouquinho; pergunta pra sua mãe o porquê daquilo. Sua mãe lhe responde com uma palavra: "hipocrisia".
A noite, na comemoração natalina, ele olha para os familiares, percebe que não são verdadeiros, recolhe-se ao seu quarto. Taciturno, a palavra hipocrisia faz sentido real, vivo, em seus familiares. Na internet, pesquisa e descobre que não é a data do nascimento de Jesus; vai até a janela, olha para o céu estrelado e fala com Deus:
- Bom Deus, ajuda-me a não ser hipócrita.
A lua, as estrelas, mudaram de lugar; o menino não, não dormiu, algo dentro dele havia mudado, era sua determinação de não ser ou praticar a hipocrisia nos 365 dias dos anos, incluindo os bissextos.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Jardim Interior

Comecei a vasculhar-me, entrei em meu jardim; estava organizado na medida praticável. Fui notando as muitas flores, muitas havia plantado, aguado, cultivado; entendia perfeitamente aquela cultura. Entretanto, outras, eu não sei quem plantou, mas estão lá, enraizadas e fortes. Andando mais adiante, notei uma caixa, não, não era uma caixinha e sim um grande baú. Agachei-me e com facilidade o abri. Em seu interior havia coisas ruins, fedorentas, repugnantes. Fechei-o, tentava empurrá-lo para qualquer direção, sem êxito, pois parecia fixado ao chão. Fatigado pelo esforço tremendo; minha mente raciocinava, e eis que o enfeitei com flores, passei-lhe um cadeado pra quem sabe, não o expor nunca mais.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Refrigério

Num barzinho do bairro de Sumaré, Sampa, lá estava Cleber, adolescente, quatorze anos e office-boy. Havia entregue ao cliente uma correspondência da empresa; era um dia de sol escaldante e, em seu retorno ao ponto de ônibus, nota o barzinho. Seus olhos brilham, como encontrasse um oásis no deserto; atravessa a rua e pede um refrigerante gelado. Os informantes passam rapidamente verificando o preço na tabela, vem uma sensação de calma e tranquilidade. Pensa que é merecedor deste agrado, o sol lá fora estava insuportável; sendo extravagância ou não, era primeira vez que ele agia em benefício próprio, de forma recompensadora com sua alma.
Naquele balcão laqueado, antigo, branco em detalhes azuis; o jovem começa a chorar, quanto mais passava as mãos pelos bolsos, mais se certificava de sua dureza. Encabulado, as lágrimas desciam; o dono do bar, um quarentão obeso, percebe que ele não tem dinheiro e fuzila-o com seu olhar. Um dos funcionários, um senhor, que atendia o balcão perguntou se passava bem. O garoto chorava e explicava em sua certeza de possuir uma moeda para a conta; detalha que é office-boy, que fizera uma entrega, e por causa do calor, desejou tomar o refrigerante, mas agora sem a moeda, com um único passe CMTC de papel para retornar a empresa. O funcionário tranquiliza-o e diz que vai pagar o refrigerante; o menino promete voltar para quitar a dívida na hora do almoço, o funcionário mostrou que não precisava. Cleber agradeceu muito o bondoso homem que acreditou em sua história; entrou no ônibus, o calor continuava, mas não o incomodava, pois física e moralmente havia sido refrigerado.

Postagem em destaque

"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.