DONA FAUSTA
Senhora de fala mole, negra,
simpática; contava que fora linda, Araguari – MG e seus homens paravam para ver
a pérola negra desfilar. Levanta-se, coloca água pra ferver de seu jeito,
calmamente. Eu tinha um corpo bonito, mas não era assanhada como as meninas de
hoje, naquele tempo tinha-se respeito, diz a anciã. Em sua vagarosidade
peculiar da idade, rejeita ajuda, pega o bule, vai atrás do suporte para o
coador, depois o procura nas gavetas, chegou a hora de por o pó, três colheres
generosas saciam sua vontade. Continua falando que está muito esquecida,
balança a cabeça rejeitando tal limitação; o semblante muda para radiante
quando fala de seu marido falecido, usa um chavão pra citar o homem: Uai, ô
home bão!
Conta muitos momentos felizes,
singulares de sua vida, entre eles o dia de seu casamento seguido por uma
bonita festa. Ri-se da queda de cavalo que levaram; não se esquece de mencionar
seu filho, como um presente de Deus com todo o amor, mesmo ele não falando mais
com ela. Pede para reparar nas paredes, no chão, forro, diz que seus irmãos de
religião fizeram todos os consertos. A xícara de café chega até minhas mãos, às
delas tremulando faz a xícara dançar coreografando com o líquido. Explica-me
baixinho o seu último investimento, precisa fazer uma viagem e está engordando
dois porcos, o dinheiro já é certo. Dona Fausta permanece conversando e
fritando os biscoitos de polvilho; eu e o dia demoramos a ir embora, pois nos
apegamos àquela agradável senhora.