quarta-feira, 24 de abril de 2013

Dona Fausta


DONA FAUSTA


Senhora de fala mole, negra, simpática; contava que fora linda, Araguari – MG e seus homens paravam para ver a pérola negra desfilar. Levanta-se, coloca água pra ferver de seu jeito, calmamente. Eu tinha um corpo bonito, mas não era assanhada como as meninas de hoje, naquele tempo tinha-se respeito, diz a anciã. Em sua vagarosidade peculiar da idade, rejeita ajuda, pega o bule, vai atrás do suporte para o coador, depois o procura nas gavetas, chegou a hora de por o pó, três colheres generosas saciam sua vontade. Continua falando que está muito esquecida, balança a cabeça rejeitando tal limitação; o semblante muda para radiante quando fala de seu marido falecido, usa um chavão pra citar o homem: Uai, ô home bão!
Conta muitos momentos felizes, singulares de sua vida, entre eles o dia de seu casamento seguido por uma bonita festa. Ri-se da queda de cavalo que levaram; não se esquece de mencionar seu filho, como um presente de Deus com todo o amor, mesmo ele não falando mais com ela. Pede para reparar nas paredes, no chão, forro, diz que seus irmãos de religião fizeram todos os consertos. A xícara de café chega até minhas mãos, às delas tremulando faz a xícara dançar coreografando com o líquido. Explica-me baixinho o seu último investimento, precisa fazer uma viagem e está engordando dois porcos, o dinheiro já é certo. Dona Fausta permanece conversando e fritando os biscoitos de polvilho; eu e o dia demoramos a ir embora, pois nos apegamos àquela agradável senhora.

domingo, 14 de abril de 2013

Num Fechar de Olhos

Ao acordar, o desejo de não mais existir persiste. Fecho os olhos, pronto, não estou mais aqui. Pode parecer infantilidade, mas por simplesmente fechar os olhos não vejo os defeitos e me aproximo do mundo perfeito das crianças.

Lenços aoVento

O lenço ao rosto, os olhos expostos e mais nada; não há cunho religioso, investigativo ou misterioso. Lenço florido que tem o preto como fundo. Agora que nada, ela não acredita; os pelos se foram, a inconveniência do vento não é capaz de tirar a resoluta decisão de sua permanência.
A mulher debilitada pela doença, a camuflada chaga sob o lenço, não sabe até quando se definhará; ela odeia a doença, mas o lenço, sim os lenços, echarpes, seus amigos, confidentes, leais, que embelezam, adornam e sorrateiramente fazem-na esquecer da doença.

Eu e Lygia Fagundes Telles

Conheci a Senhora, Rainha e Dona da melhor literatura em vida, Lygia Fagundes Telles, no ano de 1984. Eu aos onze apaixonei-me por sua escrita. Sensível, verdadeira e única no gênero. Através do texto "A Disciplina do Amor" na escola, na aula de Língua Portuguesa, analisamos esse texto. Gostava muito de ler, mas Lygia ajudou-me a saborear as frases, até hoje me lembro dessa história, sei contá-la para qualquer um, pois é muito humana. O amor, a lealdade daquele cachorro ao seu dono que morre na guerra é um assunto para a mais profunda meditação.
Querida Lygia, a escrita é o seu ofício, tu és destra no que fazes e perita nas palavras. Obrigado!
De seu admirador,


                                                                 Marco Alexandre Dias da Silva

Postagem em destaque

"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.