Ulysses
contava as moedas e recontava-as na esperança de acertar a última tacada. Sabia
por bocas e histórias alheias que flores faziam as mulheres derreterem-se, e
querendo imitar as ações de filmes românticos, buscava comprar um buquê de
rosas. Seu alvo era Márcia Adriana, cabelos longos encaracolados negros, olhos
de passarinhos, franzina e muito meiga.
Precisava
fazer algo pra ter a atenção de seu amor. Pronto, as poucas eram suas salvações.
Aprontou-se e na floricultura próximo à sua casa fez a pergunta importante:
Quanto custa esse buquê de rosas? A mulher responde um valor muito superior ao
que ele imaginava. O semblante entristece, os olhares nas moedas vão somando-as
e solucionando uma saída.
- E a unidade?
Indaga o rapaz desconcertado. A mulher examina o magricela e compassivamente
confirma se é pra namorada. – Eu acho que depois dessas flores nós casaremos! Responde
o jovem apressadamente, com a dose certa de exagero proveniente da idade. A
moça riu-se, pede para Ulysses escolher três botões. O menino escolhe as cor-de-rosa.
A floricultora capricha, recebe as moedas e o garoto sai contente. Cria
coragem, vai à escola andando, a cada passo pensa na reação da amada. A chuva
começa a cair, todo molhado com as rosas na mão direita, entra pelo portão
principal, passa a ser dono da atenção estudantil, não dá a mínima, procura a
merecedora do presente. A chuva continua, águas caem pela sua face, roupas
encharcadas, tênis iguais a poças d’águas.
Plof, plof,
seu caminhar emite sons, coração disparado, vê-se Márcia Adriana mexer em seus
cabelos enquanto lê um livro; aproxima-se, Márcia percebe que é pra ela, vai ao
seu encontro, na chuva, os dois se olham, ele passa as flores para ela que
nesse momento toda molhada, cheira-as, depois sorri. Para os dois a chuva parou
de cair naquele exato momento.