sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

MORTE E VIDA

Por três vezes eu procurei a morte, mas ela fugiu de mim. Na primeira vez, ela me achou muito jovem para morrer, na segunda ocasião, julgou-me inconsequente por demasiado e na terceira situação teve dó de mim. Entretanto, vivo um dilema, será que a morte fugiu de mim ou a vida é que me preservou?

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O PORTÃO

O PORTÃO


Ouve-se discussão no portão que dá acesso as outras casas; o emaranhado de casas, “cortiço”, por vezes termina em confusão. Mas essa tinha um som de estranheza devida o alvo. Dona Hanaí, jovem, recém-casada, lava roupas no tanque comunitário e, acostumada com as desavenças nem olha para trás. Walkiria Oliveira, esposa de Joaquim Oliveira, dono da mercearia “Brasil-Portugal”, também era proprietário das casas, por extensão Wal (Walkiria) achava-se no direito de mandar e desmandar a seu bel prazer.
                - Essa folgada largou o portão aberto. Emitiu bem alto seu recado.
Dona Hanaí fazia-se de surda, oras, pra que brigar se podia viver-se em paz, matutava a moça. Enquanto a cena acontecia, inquilinos aos montes aglomeravam-se para mais um capítulo da vida real, fitavam a gorda autoritária que ganhava fôlego e plateia.
                - Estou a falar contigo, pois, por que não fechastes o portão?
Naquele dia, Hanaí sentiu sua paciência escassear e na virada de cabeça pôs a mão em direção ao ouvido sinalizando que não ouvira.
                - Não tem problema, vou falar em sua face. Resoluta, saiu a luza em direção da rapariga para o último ato. Apontando o dedo indicador, exclamava veementemente suas ordens. A moça a pegou pelos colarinhos e a fez sentar numa planta cultivada em lata de óleo dezoito litros. A gritaria aumentou após a moça enchê-la de dedos na cara. Absoluta, não saiu de cima da reclamante e dizia se alguém a ajudasse sofreria tal qual ou pior sorte. Seu Joaquim Oliveira veio depressa, usando as expressões seguidas por raios, pede para Dona Hanaí soltar sua esposa, e junto com ele chega uma viatura da polícia. Os militares acalmam a situação e levam todos os envolvidos para delegacia. Muito humilhada, Wal, grita, sapateia, faz um espetáculo; ao indagar de Dona Hanaí, o delegado ouve o bom senso de quem estava em seu lar, lavando roupas e que atuou em defesa da honra.
A autoridade passa aquele sabão em Wal e seu marido, toma providências de fechar o portão e abrir outra passagem sem traumas. Passado algum tempo, seu Joaquim abre a velha entrada, Hanaí ouve as marteladas e continua desenvolvendo suas atividades, ciente do que está acontecendo ao seu redor.
                - Dona Hanaí, bom dia! Fala o portuga enchendo os pulmões.
                - O senhor sabe seu Joaquim, se ela desaforar eu vou às vias de fato novamente!
                - Não se preocupe, ela fugiu com o leiteiro, por que a senhora não matou aquela boa bisca?
                - O senhor deixou é?
                - Raios opâ! Agora está resolvido, a paz continuará. Sai o português acabrunhado com a situação.
Ao ir embora pensativo, seu Joaquim deixa uma certeza, ninguém tem o direito de fechar o portão de nossas vidas, de nossos corações.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.