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Nu ele estava, lembrava Clarice e seus contos. Com duas taças de vinho nas mãos me serviu. Eu o fitava, aquele corpo imperfeito, depilado, rosto barbudo. Aproximou-se, fungou em meu pescoço, um arrepio subiu-me pela espinha dorsal. O hálito vinífero, eu o experimentava de gole em gole, seu teor era forte, envolvente. Ele, o vinho e eu, já não éramos mais três, tudo se encaixava. Como os ovos quebrados no bonde; como a massa branca do inseto; estava eu estirado no asfalto da vida, sangrando como uma estrela. Eu estava nele e ele estava em mim. No entanto, meu cachorro me atacou, por qualquer razão me estranhou, eu já ladrei muito por aí. Fechei a Bíblia, abri meu corpo. Da cama avisto pela janela muito além do horizonte. Que pena que até um bom vinho chega ao fim.