Entrei no lotação e você abriu suas enormes asas, nossos olhares fixos voaram juntos com os nossos desejos. Na virada, à esquerda, desaparecemos; não sentia mais frio, o ônibus era apertado pro meu sonho. Desci, olhei aos céus, tentei te avistar. As andorinhas, os pardais, os bem-te-vis e os sabiás, cantavam como se soubessem da minha imensa vontade de te encontrar. Alucinado, olhei para o chão, folhas secas passavam pelos meus sapatos sobre a direção do vento, meu lamento, não vê -lo nunca mais. Até que uma mão em meu queixo, delicada mão, reergueu-me. Era você sem asas. Cochichou com seus lábios quentes em meu ouvido: "Perigo, ouça bem, abandonei as asas pra viver com alguém".
Flutuávamos...
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