sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

CALÇA DA VIDA MALHADA

Franzino trigueiro
Menino guerreiro,
Na feira do artesanato
Foi seu primeiro trabalho.

Na Praça da República
Quadros e portas joias vendeu,
Pra alcançar um sonho seu.

No meio da multidão
Ansiava uma calça comprar
Para poder trabalhar e ganhar.
Com o fim do dia, uma malhada
Conseguiu, não era a que queria,
Mas foi a que adquiriu.

O passo fora dado
E outros trabalhos passaram
Seu vestiário foi renovado
Mas a calça malhada
Dela ainda se recordava.


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

RISO SALGADO

RISO SALGADO

Revolto revoltado
Remorso inverso do
Complicado universo
Íntimo.
O riso salgado
Derrotou o mar,
O que o vento levou
Ainda se pode semear.
Colher com as mãos,
Poder temperar, esperar
Que a tristeza volte ao

Seu lugar.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ÓRFÃO DE PAI VIVO

ÓRFÃO DE PAI VIVO

Lá estava eu, aos sete anos, três horas da madrugada, assim declarava o relógio de parede, pronto para carregar as caixas de madeiras até a feira de rua. Papai levava as mais pesadas, eu e outros dois irmãos, levávamos as demais. Era uma escadaria quase que interminável, uns quarenta minutos andando. Eu, magricela, esforçava em suportar aquele peso, pois papai vendia peças para fogões, panelas de pressão e afins. Papai era um homem alto, moreno e magro, usava um bigode bem aparado, tinha um senso de humor muito apurado com o público, daí seu sucesso nesse negócio. Mas com a família, ele pouco sorria, era extremamente exigente, muitas vezes usando de força para mostrar sua autoridade.
Num desses dias de feira, meus irmãos mais crescidos, deram um basta nesta vida, conseguiram se colocar no mercado de trabalho formal e não eram mais obrigados a ajudar papai. Achava estranho o distanciamento, pois eu gostava de estar com ele, afinal, era meu exemplo varonil. Então, peguei as caixas de madeiras e fui colocando num carrinho feito sobre medida para as feiras. Havia repartições onde guardávamos as caixas; as rodas iguais as de bicicletas, só que maiores e mais resistentes; se transformava em uma banca prática com um grande tabuleiro e lugar para abrir o guarda-sol. Arrumávamos e estávamos prontos para vender os acessórios e fazer os devidos consertos em panelas, bules, chaleiras, etc. e etc.
O sol daquele dia estivera insuportável, mas o que me queimou me ressecou por dentro foi ver meu pai falar ao bananeiro, que eu era um moleque de rua, um marginal e ele estava me ajudando. Entendi deste dia em diante o afastamento da prole.
O bananeiro com sua enorme barraca gritou pra eu levar algumas caixas de bananas passadas, anteriormente eu havia levado, não sabia o real motivo de seu ato, mas agora era diferente, um insulto, uma humilhação. Respondi que se quisesse banana eu compraria.

Sendo uma das últimas vezes que laborava em feira livre, iguais aos outros, preferi trabalhar com estranhos, pois me sentia órfão, órfão de pai vivo.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.