sábado, 12 de dezembro de 2015

MADAME FABOTTI

MADAME FABOTTI
Os quarentões estão completando quatorze anos. Como assim? Eu e minha amada esposa estamos na puberdade de nosso matrimônio. Lembro-me que em meados de 2000, enquanto a maioria se preocupava com o “fim do mundo”, eu avistei o meu futuro naquela moça encantadora! Ela não gosta quando eu uso a expressão que foi “amor à primeira tradução de LIBRAS”, como toda mulher, quer ser valorizada pelo que é, e não pelo que faz. Acontece que pelo conjunto da obra (beleza, delicadeza, amor ao que estava fazendo e principalmente, amor ao verdadeiro Deus, Jeová) foi abalada as minhas estruturas. Qual estrategista arquitetei meus planos, comecei a pegar o mesmo ônibus no horário dela. Entreguei uma poesia que terminava dizendo: “só o tempo consegue entender e explicar um grande amor”. Ela parecia desinteressada até que dei xeque-mate, ela não tinha mais pra onde correr, era a hora de uma resposta, positiva ou negativa.
- Eu darei a resposta daqui alguns dias. Falou toda desconcertada.
No entanto, fui antecipando a data por marcar um encontro e nesse encontro, sim, um irresistível gatinho de pelúcia branco, com seus detalhes rosa e olhos azuis; era minha arma, a mais baixa e desesperadora possível.
Encontramo-nos no terminal de ônibus e com um sorriso transbordante, dei a arapuca. Ela sorriu, desmanchou-se, fez de conta que era uma surpresa, embora, costumeiramente, as mulheres fazem um check-in, percebendo tudo a sua volta; ela percebeu o presente e se duvidarmos, sabia que era um gato de pelúcia e o quanto eu havia pagado nele. Mas, em sua discrição, enrubesceu-se e sorrindo agradeceu-me. Dali por diante, tornamo-nos cúmplices de nosso amor e marcamos a data de nosso casamento para exatos um ano.
Viva! O mundo não tinha chegado ao fim, mas minha condição de solteiro sim. Aos quinze dias do mês de dezembro de 2001, nos casamos, trabalhamos juntos na Língua de Sinais por quase sete anos, e nos outros sete, trabalhamos unidos por um ser razão e outro sentimento, ela econômica e eu gastador, eu risonho e ela sisuda, ela dores e eu o remédio, eu depressão e ela a psiquiatra particular.
Éramos jovens, hoje maduros, gostamos de conversar, respeitar um ao outro. São 14 anos de uma luta em dupla contra os problemas, nunca contra nós mesmos. Elizabeth, a Beth como conhecida, artista plástica, artesã, decoradora, arquiteta, paisagista por devoção, técnico em contabilidade por profissão, voluntária na obra de Deus de coração.
Parabéns pelos 14 anos de casamento, por nosso amor, no mais pleno sentido e complexidade e em todas as áreas que ele atua. Que nosso amor alcance a maturidade no enlace, Madame Fabotti.
De seu sempre, amor, filho e Quem-Quem.

Marco.

domingo, 6 de dezembro de 2015

BALÉ CANINO

BALÉ CANINO

O amanhecer na cidade de Bady Bassitt, SP é quase sempre inspirador. Rodeada ainda por muitas fazendas e chácaras, suas muitas árvores atraem as mais belas aves, que se posicionam nos galhos, nos arbustos, nos bois e gramas para saudar um novo dia! Dos conhecidos pardais saem seus sons, os periquitos-de-encontro-amarelo somam-se devagarinho ao concerto, o pica-pau se ajeita o tiziu imperativo não para, os bem-te-vis roubam a cena com os seus chamados, os beija-flores vão completando a coreografia junto com uma nuvem de borboletas; o tucano já está a rigor para receber o dia. Quem para, escuta uma linda sinfonia, sim, que lembra a composição de Johann Sebastian Bach, de 1716 denominada “Jesus bleibet meine freude”, mais conhecida como “Jesus, a Alegria dos Homens”.  Parece que instintivamente sabem louvar ao Pai e ao Filho por um novo amanhecer.

Totalmente renovado, deparo-me com uma cadela, vira-lata, de pelagem marrom claro que está prenha. Ela surge nos portões de seus fornecedores por volta das onze horas da manhã. Suas muitas marmitas estão em pontos estratégicos que só ela conhece; quando uma falha, ela confia em seu faro e vai até o endereço certo. Abocanha feito uma esganada, antes de partir, emite dois latidos que entendo qual agradecimento. Sai contente abanando seu fino e cumprido rabo. O tempo, esse amigo bondoso e às vezes inimigo não piedoso, ocultou o seu sumiço, sua ausência e saída do cenário. Passam-se algumas semanas e sinto falta dela. Depois de me encantar com mais uma sinfonia pela manhã, eis que surge a nova mamãe do pedaço, seus dois filhotes estão seguindo-a. Ela bate com a pata esquerda no portão enquanto sua direita puxa a marmita para fora auxiliada por seus dentes. Começa então uma linda dança, um ritual para se alimentarem. A matriarca olha para a marmita, dá três patadas ao chão e vai voltando cinco passos para trás, seus filhotes dão a mesma quantia de passos para frente e olham fixamente para o alimento. Um uivado na retaguarda os põe a saborear, devorar até a metade do vasilhame. Eles param como que treinados e dão os passos para trás em dupla. A cadela não volta, e determinada bate a pata direita novamente e os aprendizes avançam impetuosamente encerrando aquele ato. Ela se põe de pé, late em minha direção, os dois também agradecem do mesmo modo e saem subindo a rua. Quando dei por acabado aquele balé, surge ela, sozinha, vai até o monte de areia que está na calçada, com jeito fuça e sai com um pedaço enorme de frango e vai se deliciar longe dos olhos alheios. O vento começa a soprar, balança a acácia imperial com seus cachos de flores amarelas que caem, embelezando a calçada e mandando pétalas de flores para os grandes artistas da ocasião.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.