O sol ainda não aparecera, mas o
rosto dela suava iluminado ao fogão de lenha. Flores verdes apareciam na mesa,
vinham da horta, que as mãos envelhecidas de seu amado pontualmente traziam. O
cheiro de café misturava com o de feijão cozinhando, eles disputavam o espaço
entre si. Ao desjejum, dezoito pessoas esperando o momento certo de entrar em
cena, como o sol, eles apareceriam.
Bule e copos, pães e bolos
descansam prontos para saírem de cena. Beijos, muitos, no rosto e na testa, a
anciã parece indiferente, coisas da idade. Olhos alegram-se de ver a prole
comer; suas mãos unhas bem feitas e pintadas de vermelho, repartem o pão que
amiúde vai à boca. Nada fala não lhe sai som, mas observa o cenário barulhento
dos famintos de pães, de palavras e saciados de brincadeiras.
A velha enrubesce com as quentes
mãos de seu amado em cima das suas; diz-se baixinho ao pé do ouvido um obrigado
inteligível, que a senhora ri-se no íntimo, sabia que o agradecimento era pelo
conjunto da obra. Levanta, incentiva a turma a enfrentar o dia; vai pouco a
pouco ficando só, ela e as panelas, cozinha cantarolando uma canção antiga, raiz;
grita para o Duque, o cachorro de estimação, continua cantarolando afinadamente
e a sinfonia das panelas a acompanha junto com seus pensamentos.