quarta-feira, 24 de abril de 2013

Dona Fausta


DONA FAUSTA


Senhora de fala mole, negra, simpática; contava que fora linda, Araguari – MG e seus homens paravam para ver a pérola negra desfilar. Levanta-se, coloca água pra ferver de seu jeito, calmamente. Eu tinha um corpo bonito, mas não era assanhada como as meninas de hoje, naquele tempo tinha-se respeito, diz a anciã. Em sua vagarosidade peculiar da idade, rejeita ajuda, pega o bule, vai atrás do suporte para o coador, depois o procura nas gavetas, chegou a hora de por o pó, três colheres generosas saciam sua vontade. Continua falando que está muito esquecida, balança a cabeça rejeitando tal limitação; o semblante muda para radiante quando fala de seu marido falecido, usa um chavão pra citar o homem: Uai, ô home bão!
Conta muitos momentos felizes, singulares de sua vida, entre eles o dia de seu casamento seguido por uma bonita festa. Ri-se da queda de cavalo que levaram; não se esquece de mencionar seu filho, como um presente de Deus com todo o amor, mesmo ele não falando mais com ela. Pede para reparar nas paredes, no chão, forro, diz que seus irmãos de religião fizeram todos os consertos. A xícara de café chega até minhas mãos, às delas tremulando faz a xícara dançar coreografando com o líquido. Explica-me baixinho o seu último investimento, precisa fazer uma viagem e está engordando dois porcos, o dinheiro já é certo. Dona Fausta permanece conversando e fritando os biscoitos de polvilho; eu e o dia demoramos a ir embora, pois nos apegamos àquela agradável senhora.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.