Preciso arrumar a casa, pois mamãe
Vive aos prantos.
Uso roupa de mamãe pra não mostrar
As pernas. Como se isso fosse proteção
Da figura paterna.
Quando tudo tá arrumadinho, sento pra
Almoçar e depois faço meu dever no
Caderninho.
Minha paz pula pela janela quando ouve
O portão tinir, começo a urinar e tremo
Todo corpo.
Aquelas mãos sujas deslizam sobre mim.
Oro pra Deus, foi assim que mamãe ensinou,
Levo um tapa na cara, é papai mostrando
Amor.
Depois de machucar com seu peso, levo dois
Safanões - Menina vagabunda, vai esquentar
Meu feijão e arroz.
Acendo o fogo e não aumento a água no
Feijão, pra quê, meus olhos prestam essa
Servidão.
Olho para o alto e falo com Deus: traga
Mamãe rápido, não quero mais ser violada,
Pai meu!
O feijão esquenta e o arroz também, o medo
Permanece, e a menina urina mais vez.
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