sexta-feira, 15 de junho de 2012

A MÚSICA

Havia sido difícil; mais um dia de sol escaldante. O chapéu de palha, velho, ainda servia para alguma proteção. O sal desce pelo rosto; o homem parece uma máquina, repete várias vezes o movimento com sua enxada. Um apito se ouve, comandado pelo estômago; larga-a e caminha cabisbaixo até a mangueira. Ao sentar, sua expressão de dor é nítida; da boina retira uma marmita; num gesto de oração agradece o que tem nas mãos. Colheradas rápidas lhe enchem a boca, não pode deixá-la vazia, o esforço é maior por que poucas lhes são as moedoras.

Acabou, guarda sua companheira, gruda ao corpo, retorna ao sol, já saudoso da mangueira. Conecta-se  ao trabalho, braçal; o vento refresca e suja, sua junção com a poeira é hábil e laboriosa, tal qual o cenário. O astro rei se despede, é hora de regressar; anda por quarenta minutos e avista o aconchego. Banha-se, troca algumas palavras com a esposa. Sempre calmo, ouve mais do que fala. Após uma deliciosa galinhada, liga o rádio de pilha, ouve uma música que poeticamente fala do sol, da lua, do brilho das estrelas no chão; sente um nó na garganta, uma enorme vontade de chorar. O sal mina, percorre o caminho na face, o tempero lhe desce pra preservar o natural, sua essência humana.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.