sábado, 12 de janeiro de 2013

O SUICÍDIO

Voltava Euluan muito triste, decepcionado com suas expectativas quanto ao amor. A pessoa que ele estava cortejando lhe tratava bem, fez questão que conhecesse os seus pais; moravam no Jardim Record, em Taboão da Serra, na grande São Paulo. Houve uma ocasião que até dormiu em sua casa; as coisas estavam se encaixando. Euluan não podia mais viver longe daquela figura; respirava, comia, bebia e se desgastava por ela. Ela tratava todos bem, e este era o problema, dava beijos na boca de outros, mostrando sua imensa intimidade com terceiros, mas com Euluan, a coisa era parental, um amor storgé.  Como pavão, Euluan abriu-se, mostrou suas qualidades, o que tinha de melhor aos dezessete anos. Brigou, e sua pior briga era interna. Decidido agora a namorar e casar, tomou um banho como preparação de seu corpo, apanhou sua melhor roupa, usou um perfume de fragância ousada. Saiu de sua casa no Morro do Cristo (um lugar conhecido por suas tantas escadarias que acaba na imagem, replica menor do Cristo Redentor do Rio) desceu as escadarias em direção a Rodovia Regis Bittencourt (BR 116), pegou o coletivo intermunicipal.
Certo de que receberia um sim, treinou alguns beijos em sua mão esquerda; não queria fazer feio, quis viver aquele momento. Desceu próximo a antena da Record e foi andando, já era início da noite. Bateu palmas, ela veio, pediu para entrar, quando na sala, depara-se com o rival bem juntinho. Visivelmente desconcertado, pede licença para trocar duas palavrinhas. Em particular pede-a em namoro, recebe seu não. Cavalheiramente despede-se dos pais, do arqui-inimigo e da amada, a cabeça não está baixa, sai, andando ao luar, sua sombra cabisbaixa o revela. De volta ao bairro, rejeitado, no lotação lança luz pro seu problema: suicídio. Arquiteta descer na praça central, subir em uma passarela e descer, se jogar, acha-se um lixo. Conta um, dois, três; levanta-se e aperta a campainha, o ônibus para três pontos depois do alvo. Pensa: que trabalheira morrer, desiste por hora, continua andando para casa nocauteado.
Anos se passam e, em seu trabalho recebe uma ligação dela, convidando para se encontrarem, saírem juntos, relembrar os bons tempos. A negação volta a sua mente, ele responde que não pode. Desliga o aparelho e dai por diante se suicidou pra ela, nunca mais deu atenção à ela.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.