Queria
Joãozinho por todo custo ir logo à escola; sua curiosidade aos cinco anos e
propaganda de seus irmãos tirava-lhe o sono. Quatro beliches, espaço apertado,
Joãozinho dormia embaixo, ali era seu mundo encantado. Ele sabia falar seu
nome, contar de um a dez, falava de cor o nome de seus pais; não via a hora de
poder conhecer o desconhecido, ampliar o seu mundo.
A casa em que
Joãozinho morava era a única de uma escadaria que embaixo ao pé da escada, dava
acesso à avenida e, lá no alto a rua de terra. O quintal rodeado por uma cerca
de troncos de árvores, apoiando os arames farpados; na entrada pela escadaria,
havia um poço artesiano, ao seu lado, um tanque de lavar roupas, um pouco a
esquerda, uns degraus feitos na terra acessando a parte de cima do quintal.
Era como o
quintal da vovó com aquela goiabeira, um pé de lima, a plantação rasteira de
morangos, um pouco mais adiante a horta com couves, almeirões, alfaces e
tomates; tanto ao lado esquerdo como do direito ao fim do quintal, bananeiras ornavam-no,
e um pé de jaca se destacava. O terreno do vizinho era repleto de plantação de
milho, onde Sr. Carlos, pai de Joãozinho zelava para cultivo. A casa antiga
possuía laje no cômodo mais novo, a cozinha, as demais partes eram simples, o
quarto dos genitores com guarda-roupa, cama de casal com, criados mudos,
chamavam atenção do menino. O quarto das crianças com suas duas beliches, a
sala com os jogos de sofás, uma estante e televisão. A cozinha era azul, azul
bebê, Ninica a mãe deixou de seu jeitinho com um toque feminino.
Todos os dias,
inclusive feriados, Joãozinho acordava às cinco e meia, corria para o quintal,
puxava a mangueira e começava a regar a horta, as plantas e tudo em volta;
gostava de demorar pra ver o sol surgir, aproveitava seus raios que o aqueciam
e arrepiavam-no, um arrepio com sensação de alívio, pois parecia que tudo de
ruim havia saído com a luminosidade.
Conversava com
as plantas e com os matos arrancava-os, reunia como brinquedos e sua imaginação
se soltava, longe muito longe. Corria para tomar seu café da manhã afobado,
precisava ver se já tinha moranguinhos, quantos? Ninica balançava a cabeça
achando graça de suas preocupações. Seus três irmãos acordavam às seis e meia
inconformados com o horário, corriam e engoliam o pão com café; lá iam eles
cutucando um ao outro, um zombando do outro. Joãozinho com seus olhos os
seguiam até sumirem de vista. Imaginava ao lado de seus irmãos cutucando,
brincando e correndo até chegar à escola. Voltava ele a brincar com os matos e
o ajuntar de pedrinhas.