domingo, 24 de novembro de 2013

Vila Operária

Eram meados de 1965, na cidade de Cubatão, baixada santista, que completariam um pouco mais de dois anos de casados. Nilo o bebê de um ano e meio brincava dona Abigail, a jovem Abigail, linda, morena clara, olhos e cabelos negros, magra; decoradora nata repartia a casa de madeira da vila Operária com cortinas, móveis e flores. Não é que se assemelhava a casas de bonecas. Dona Milú de família espanhola, meio cheinha e simpática pede licença; a mulher entrou e perguntou a jovem se não tinha ciúmes de seu marido. Talvez – foi a resposta ressabiada da moça.
                - Sabe aquela moça morena, a Josefa, que todo dia após o trabalho passa aqui pra ver o Nilo?
                - Continue. Um tanto impaciente com os rodeios da Senhora.
                - Quando seu marido sai pela manhã, ele encontra com ela no ponto de ônibus todos os dias. É um chamego pra lá e pra cá. Lança o veneno.
                - Era só isso? – pergunta a jovem finalizando a conversa.
                - Por favor, não me envolva neste assunto. Eu prezo por demais a paz. Sai em direção ao portão.
                O coração de Abigail agora é uma máquina, ela prepara a mamadeira do Nilo e atenta ao relógio espera qual onça o perigo se aproximar. Às quatro horas pontualmente, Josefa chega cheia de sacolas e vai entrando dirigindo-se até o berço, pega o Nilo adormecido e faz carinhos, enche-o de beijos e não para de falar até o bebê acordar. Percebe que Abigail está muda, indaga se acontecera algo.
                - Vagabunda! – esbraveja a dona do lar.
                - Co- como?
                - Coloque o menino no berço, pensa que desconheço suas intenções, vadia!
                - Me deixa explicar...
                Bah! O tiro passa perto furando a parede de madeira, Josefa cai ao chão de joelhos e berra aos prantos tirando junto aos seios uma foto do irmão mais velho de Abigail.
                - Não me mate, toda manhã eu mando uma carta para seu irmão através de seu esposo, pois os dois mulher de Deus trabalham juntos.
                - Ordinária, não sabe que meu irmão é casado? Suma daqui, da minha vida e da do meu irmão.

                Josefa sai rapidamente correndo pela vila e some na rua principal; duas horas depois chega Igor, mas antes de entrar em casa, a vizinhança o informa do ocorrido. Precavido, entra em casa como costumeiramente, vai até Nilo, a criança fala – Pai, mamãe Bum! – mostrando com o dedinho indicador o furo. Desentendido, continua com o menino no colo, qual dono da arma sabe que há mais projeteis. Pra que cutucar a onça com vara curta.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.