Eram meados de 1965, na cidade de
Cubatão, baixada santista, que completariam um pouco mais de dois anos de
casados. Nilo o bebê de um ano e meio brincava dona Abigail, a jovem Abigail,
linda, morena clara, olhos e cabelos negros, magra; decoradora nata repartia a
casa de madeira da vila Operária com cortinas, móveis e flores. Não é que se
assemelhava a casas de bonecas. Dona Milú de família espanhola, meio cheinha e
simpática pede licença; a mulher entrou e perguntou a jovem se não tinha ciúmes
de seu marido. Talvez – foi a resposta ressabiada da moça.
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Sabe aquela moça morena, a Josefa, que todo dia após o trabalho passa aqui pra
ver o Nilo?
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Continue. Um tanto impaciente com os rodeios da Senhora.
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Quando seu marido sai pela manhã, ele encontra com ela no ponto de ônibus todos
os dias. É um chamego pra lá e pra cá. Lança o veneno.
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Era só isso? – pergunta a jovem finalizando a conversa.
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Por favor, não me envolva neste assunto. Eu prezo por demais a paz. Sai em
direção ao portão.
O
coração de Abigail agora é uma máquina, ela prepara a mamadeira do Nilo e
atenta ao relógio espera qual onça o perigo se aproximar. Às quatro horas
pontualmente, Josefa chega cheia de sacolas e vai entrando dirigindo-se até o
berço, pega o Nilo adormecido e faz carinhos, enche-o de beijos e não para de
falar até o bebê acordar. Percebe que Abigail está muda, indaga se acontecera
algo.
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Vagabunda! – esbraveja a dona do lar.
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Co- como?
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Coloque o menino no berço, pensa que desconheço suas intenções, vadia!
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Me deixa explicar...
Bah!
O tiro passa perto furando a parede de madeira, Josefa cai ao chão de joelhos e
berra aos prantos tirando junto aos seios uma foto do irmão mais velho de
Abigail.
-
Não me mate, toda manhã eu mando uma carta para seu irmão através de seu
esposo, pois os dois mulher de Deus trabalham juntos.
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Ordinária, não sabe que meu irmão é casado? Suma daqui, da minha vida e da do
meu irmão.
Josefa
sai rapidamente correndo pela vila e some na rua principal; duas horas depois
chega Igor, mas antes de entrar em casa, a vizinhança o informa do ocorrido.
Precavido, entra em casa como costumeiramente, vai até Nilo, a criança fala –
Pai, mamãe Bum! – mostrando com o dedinho indicador o furo. Desentendido,
continua com o menino no colo, qual dono da arma sabe que há mais projeteis.
Pra que cutucar a onça com vara curta.