segunda-feira, 30 de maio de 2016

"O SIGILO DA CHUVA"

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Os meninos brincam na chuva nus, sem pejos, sem medos, afinal, águas das nuvens serenas caem ao chão, ajuda o terreno brotar; as crianças em meio à lama estão a se sujar. São tantos barros em suas pequenas mãos, que moldam quais balões, pandegam atirando suas munições.  Um recebe na testa e é só risadas, o outro bem no ombro, braços, pernas, barrigas e cotovelos, assim vão mirando na borga o seu companheiro.
De repente,  o maior escorrega e cai, começa a chorar, enfim brincar despidos tem seus riscos.
Os pueris que lá estavam, encerraram as gargalhadas rapidamente, valeram-se de uma atitude humanitária.  Vinte mãos o tiraram do chão,  dez línguas a se consultarem,  dez cérebros pensando no próximo passo, quando apressado, surge o padrasto do menino machucado.
- Sr. Antônio,  o posto de saúde é logo ali, seu afilhado por cima de nossas cabeças está, somos unidos, nada nos atrapalha, lá chegaremos e um pronto atendimento o afligido vai tendo.
A cidadezinha, escondida em suas casas se achava a populaça abrigada da chuva, à notícia dos pelados, foram comprovar nas ruas. Aquele bando de formigas desnudas,  no posto foi entrando,  a enfermeira assustada logo foi ralhando : Uai! Cadê as roupas de vocês?
- Dona Naná, agora ralhar não adianta,  por gentileza, dê atendimento a esta criança.
Dona Naná puxou a maca e o pobre chorão se acalmou, ouvindo o conflito,  o Dr. Said levantou, os primeiros socorros ministrou.
A faxineira,  cheia de besteiras,  nos fez sair do corredor,  também lá fora,  na chuva os pés a gente não arredou. Ouvia-se do interior muitos uivos de dor, Dona Naná explicou: Que pena, a perna ele quebrou. Agora pelados, o risco já passou,  vão pra suas casas, tomem banho, comam alguma coisa e se aqueçam sob o cobertor.
Não aceitamos tal conselho, um amigo,  aprendemos, não se larga a esmos.  Pode voltar ao seu trabalho, se preciso for aqui amanheceremos.
Os genitores de cada um chegavam a todo instante,  traziam cuecas, shorts,  camisetas, cada um com sua toalha se enxugava e batia a xepa.
Mainha de Ambrósio enfezada ficou: Larga de ser besta rapaz, doente vai ficar e depois é a burra veia que vai se lascar.
Nem assim debaixo de xingamentos e de sermos taxados como estúpidos, nossa lealdade permaneceu,  não foi só de momento.
A chuva apertava,  trouxeram o aviso que acabou com nosso tormento,  ele estava de alta,  graças a Deus nós demos.
Da maneira que o trouxemos, embora foi, por cima de nossas cabeças flutuando na cidade, por onde passávamos,  cumprimentávamos os compadres e comadres.  Estávamos com a sensação de dever cumprido, nosso amigo e irmão para o lar foi devolvido.
Até hoje, ele não sabe o que nós dez sabemos, enquanto ele gemia e chorava, nos desmanchávamos por dentro, a chuva maquiou o nosso sofrimento. 

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.