sábado, 5 de maio de 2012

ACASO DE TAL

Parecia estranho aquele menino, Murilo de Tal. Se não o conhecesse o teria por esnobe, ou no mínimo, lunático. Nas ruas, as sombras frias das árvores com suas brechas, o imponente sol, obrigava a penetração de seus raios. Ali e em quase todas as ruas, meninos arfam por um gol, o suor desce nas faces: de alguns contorna o riso, e de outros a frustração e raiva.

Em meio aos palavrões, surdamente seus genitores concentram-se em varrer calçadas,  lavar seus carros, casas, consertos, suas refeições, indas e vindas: não há repreensão. O cantar dos pássaros, bandos coreografados de andorinhas, bicos coloridos e radiantes, Murilo de Tal, aos oito anos, sentado num banco de tábua, sobra de construção, que nas vilas proliferam.

Em sua concentração profunda, estas coisas passam por alto; o livro sim, bendito livro que o fazia viajar pelo universo, atravessar galáxias, sentir uma realidade que não era a sua. Uma voz forte ressoava, lembrando-o de sua responsabilidade para com o quarto. Era sua mãe, Dona Celeste, mulher forte, senhora é bem verdade; séria pelo semblante, mas um coração que não lhe cabia por tamanha generosidade. Claro que era ávida nos assuntos alheios, nos acontecimentos da vila. Quanto aos assuntos de Murilo, seu interesse desvanecia.

De boca em boca, a desgraçada populaça, contava sobre a pobre viúva, que adotara Murilo, e nas línguas apimentadas, sua nobre atitude era traduzida por desvaneio e loucura. Murilo continuava lendo, na esperança de encontrar um mundo melhor. Ele lia.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.