domingo, 22 de abril de 2012

O BUSÃO

São sete horas da manhã, e o lotação, aquele ônibus lotado, não tem espaço para mais ninguém. A linha bairro centro, leva aproximadamente cinqüenta minutos para completar seu itinerário.
Neste tempo, comparativamente pequeno acontecem coisas, diversas vidas e histórias se misturam, como o daquela senhora morena com aparência de meia idade que conta às peripécias da noite anterior com os amigos na roda de bar. Algumas moças pudendas no meio do bus  escondem as faces em seus livros, ao ouvir  as intimidades que a senhora revela no fundo do ônibus como se estivesse entre as paredes de sua casa.

Há comentários sobre política, homens que conversam xingando o mau proceder dos que adotam a lei de Gerson. Jovens senhoras casadas comentam capítulos novelísticos, daquelas que assiduamente sabem o que acontecerá amanhã. O cobrador com cara de mal humorado diz não ter troco para uns, faz um jovem levantar para dar lugar a um senhor muito idoso. O olhar do jovem condena o cobrador que acostumado com essa vida olha para janela afora tentando deletar a cena e seu estresse.

Perto da senhora morena na mesma fileira de assentos, tem quatro jovens fumando maconha e mexendo com os passageiros e transeuntes, fazem isso com ar de proprietários do grande carro, gritando, falando palavrões. O interessante que o lotação cruza com a viatura da polícia, e nada acontece dentro e fora, tudo parece ser normal. No aperto do corredor, formam-se três fileiras e alguns casais se apertam sensualmente como na cama, não importando com olhares curiosos ou de reprovação. Os espertalhões, conhecidos como mãos leves, atentam para cidadãos descuidados, eles querem começar o dia bem, repondo o gasto que tiveram com a passagem.

Mulheres grávidas na frente falam sobre traição, família, pensão para os filhos e o principal, homens, pelas suas descrições uma revista pornográfica fica obsoleta. Um jovem em pé, lê a Bíblia, parece não estar no ônibus, lê com tanta atenção que sua face reluz como se já estivesse no paraíso. Dois outros homens discutem religião e não chegam num consenso.

A cada parada, a abertura da porta, acontece o vai e vem de passageiros, de vidas expostas e encobertas, acompanhadas pelas freadas, e um som próprio de rádio no ônibus com uma miscelânea de musicas.
Você talvez não tem outro jeito a não ser acostumar se com a rotina, uma rotina muito mudada, desde de que aquele escritor escreveu No Lotação, que um homem assobiando e cantando quebrava a rotina das pessoas, alguns gostavam e outros não. Ou com Ousadia, aquela crônica que contava sobre a mãe voltando pra casa, e um jovem rapaz fita seu olhar nela, que o julga adversamente, talvez pensando na ousadia do homem em querer flertar, ao descer percebe ser seguida por ele e, descobre que é o namorado de sua filha. Realmente o mundo mudou, e com isso, tudo em nossa volta. Bons tempos aqueles!

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.