sexta-feira, 27 de abril de 2012

Aprovados

Aquela demora pela manhã, fazia Nanci andar de um lado para o outro, olhar insistentemente para o relógio, ora na parede, ora no pulso. Toc, toc, toc... Era o som de seus sapatos de saltos altos indicando que não podia mais esperar. Firme e resoluta, saiu da cozinha deixando a xícara de café pela metade borrada de batom, ao passar na sala, pára, refletida observa se a roupa lhe cai bem, os sapatos estão combinando, a bolsa seja de bom gosto... retoca o batom roubado pela xícara, vira-se de um lado, seus olhos correm para o outro sem piscar. Vê-se meio sorriso, gesto de aceitação habitual.


Enquanto isso, no banheiro, Túlio demora, admirado com as mudanças de seu corpo. Parece estonteado com os primeiros despertar dos pêlos. Ao espelho, escancara um sorriso largo, desses que confirma sua masculinidade. Seus olhos se arregalam ao sinal de espinhas, principalmente daquela enxerida no nariz.


O som forte e alto na porta avisa que seu tempo findou-se e, sua mãe sem rodeios escancara a garganta, pronunciando rejeições e acusações que por mais cinco minutos, seriam totalmente verdadeiras. Agilmente sua imagem está vestida, calça o tênis e penteia os cabelos soltando interjeições de irritação. Abre-se a porta do banheiro, o loiro molhado e magricela sai bicudo. Sua mãe com os braços cruzados e postura autoritária que o pesquisa, o acompanha no olhar.


Túlio abaixa a cabeça, pega a mochila e sai em direção ao carro lá fora; em seu caminho ele olha para o lado esquerdo, fita-se e sorri, olhando para os ombros e o rosto, continua sua lenta caminhada, apressada pelos passos da matriarca na retaguarda.


Nanci não resiste a atração do espelho e confere, novamente observa a escolha e os detalhes naquele rápido olhar, arruma a bolsa no ombro, em sua última visão, abre um sorriso de aprovação por sua aparência e resolução do caso Túlio. Toc, toc, toc... as chaves no telintar, anunciam sua saída, o perfume fica e lá se vai o carro rumo as atividades incumbidas.


Pé no acelerador, as vezes no freio, olhar à frente, desviado pela curiosidade com a aparência; ao seu lado, Túlio baixa o quebra sol, o espelhinho reforça sua aparência, uma fuga das reclamações de sua mãe que prosseguem. A coisa é certa, ambos esperam elogios que só os espelhos estão dispostos a fazer, com aprovação.

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"ESPERAREI"

Esperarei domingo; Esperarei sorrindo; Esperarei sonhando; Esperarei dormindo; Esperarei um amigo, Um abrigo, um lindo dia de sol.